Os preços de PCs antigos que precisam de reparos e peças difíceis de encontrar dispararam nos sites de revenda.
Autor: Kim Key // Tradução-adaptação: BrancoRP2000
Por toda a tecnologia pessoal introduzida e popularizada em 2020 – bicicletas de fitness sofisticadas, testes caseiros da Covid, consoles de jogos novos e antigos – o computador pessoal chega à lista com um baque surdo. Os PCs não têm a novidade de outros dispositivos , mas eles são práticos, essenciais até, em um ano em que o trabalho, a escola e a vida social passaram a depender fortemente deles.
Embora os computadores modernos e cada vez mais eficientes estejam vendendo melhor do que em anos, os computadores antigos – dispositivos antigos pouco práticos que precisam de reparos e peças fora de produção – também estão em demanda em sites como o eBay. Os colecionadores também se aglomeram em fóruns, servidores Discord para comprar, vender e trocar peças.
As pessoas estão comprando esses PCs não necessariamente para uso diário, mas pela satisfação que obtêm ao reconstruí-los. É uma tendência que se pode atribuir ao tédio de quarentena, embora esteja ganhando força há anos.
Retrocomputar, (como o hobby pode ser definido/chamado) dificilmente é apenas uma maneira de passar o tempo. Em vez disso, na opinião dos entusiastas, é um meio de se comunicar com o passado.
“Você entra nessa mentalidade de como deve ter sido ser alguém no final dos anos 70, tendo gasto milhares de dólares em algo que mal faz nada mais do que uma calculadora”, disse Clint Basinger, 34, que dirige o canal do YouTube Lazy Game Reviews. (Os dispositivos permitem que retrocomputadores façam arte e música usando software indisponível em novos computadores e joguem jogos de 8 bits, mas não muito além disso.)
“É como uma máquina do tempo para mim”, acrescentou Basinger.
Antes da pandemia, havia várias convenções de computação vintage localizadas nos Estados Unidos, para as quais os colecionadores traziam seus computadores para exibir. Os participantes compraram e trocaram hardware nesses eventos, bem como encontraram os amigos que fizeram online.
Huxley Dunsany, 38, disse que cerca de 100 pessoas costumavam passar pelo Local, um café em Alameda, Califórnia, na última quarta-feira de cada mês para os encontros de computação vintage que ele organizava.
“As pessoas vinham passando pelo café e olhando duas vezes para os desenhos animados quando viram todos aqueles computadores antigos parados na janela e entrando para perguntar o que estava acontecendo”, disse ele.
Mas, por enquanto, existe a internet. Sites como o Vintage Computer Forum e 68kMLA têm ajudado as pessoas a se relacionar com o hobby desde o início. Um dos maiores subreddits de computação vintage, Retro Battlestations, mais do que dobrou de tamanho nos últimos anos, de 23.000 assinantes em 2018 para mais de 58.000 neste mês. Existem também servidores Discord ativos dedicados à retro computação, bem como sistemas BBS para as pessoas usarem com suas máquinas desatualizadas.
Nota de BrancoRP2000: Não esqueçam que www.oldplayers.com.br também é um site destinado à retro computação e videogames, bem como nosso canal e demais redes sociais! Inscreva-se e acompanhe todas as nossas publicações
O Sr. Dunsany é apaixonado por trazer novas pessoas para o grupo, especialmente aqueles que não possuem um conhecimento técnico ou não se enquadram no estereótipo de nerd de computador. “Eu adoraria ver mais mulheres no hobby e mais minorias se envolvendo, porque sou um cara branco genérico de quase 30 anos”, disse ele. “Eu sou meio que o padrão para este hobby, e não quero que isso seja verdade em 10 anos.”
Madeeha Al-Hussayni, uma fotógrafa de 37 anos do Reino Unido, entrou no mundo dos computadores depois de ver seus irmãos usarem o dispositivo da família enquanto cresciam; na adolescência, ela começou a fazer música no Amiga. Atualmente, ela posta vídeos no YouTube sobre retro computação como MsMadLemon. Ela disse que não há muitas mulheres nas comunidades de retro computação.
“Na verdade, fiquei um pouco apreensiva ao entrar nisso, porque sou apenas eu em um lugar onde todos são homens e meio que foi um pouco, ‘Como serei recebida?’”, Disse ela. “Tive pessoas que me apoiaram e ficaram felizes por eu fazer parte disso. Existem algumas pessoas que ficaram realmente infelizes por eu fazer parte disso. Você sabe, meio a meio. ”
O custo também pode intimidar. Para computadores que contêm sistemas como o Amiga, lançado em 1985, os colecionadores podem pagar de US $ 300 a US $ 650 por um dispositivo funcional. Outros PCs têm peças separadas, e a busca por essas peças pode ficar caro facilmente.
“É uma bola de neve de verdade, mesmo nos últimos cinco anos”, disse Basinger. “Acho que algumas coisas são cerca de 10 vezes mais caras do que eram em 2015.”
Se um colecionador decidir comprar todas as peças online, montar um Intel Pentium III 1133 funcional de 1999 custaria cerca de US $ 500. Um monitor de meados dos anos 90 sozinho pode variar de $ 135 a mais de $ 2.000 no eBay, e isso antes do envio. Quanto mais antigo o computador, mais difícil é encontrar peças e periféricos que funcionem, portanto, computadores e peças do final dos anos 70 e 80 também podem custar centenas de dólares online.
Os dispositivos mais procurados têm preços muito mais altos. Um Apple-1, a criação de Steve Wozniak da gigante da tecnologia, foi vendido por quase meio milhão de dólares em um leilão em 2019 .
Amir Husain, o fundador de 43 anos da empresa de IA SparkCognition, possui 150 computadores vintage. Ele valoriza tanto a conexão da tecnologia com o passado quanto sua raridade na busca por itens para sua coleção.
“Comprei em leilão um Silicon Graphics Indigo, que foi usado por Steven Spielberg quando ele criou ‘Jurassic Park’”, disse ele. “Na capa está escrito ‘The Steven Spielberg edition, 1 of 1’, e no interior, há dois cartões de visita de executivos da SGI com notas pessoais para Steven Spielberg.”
Ryan Horan, 22, tem apenas três computadores vintage com preços razoáveis em sua coleção: dois Atari STs e um Commodore 64. Ele vê a retrocomputação como um vislumbre de um mundo que nunca experimentou.
“Eu nasci no final dos anos 90”, disse Horan. “Acabei de ouvir histórias de coisas dos meus avós nos anos 50 e dos meus pais nos anos 80. Então, eu nunca fui capaz de experimentar o que eram essas coisas além das histórias e ter coisas físicas daquela época que ainda são perfeitamente funcionais. ”
Considere isso da próxima vez que você pensar em jogar fora um iPhone supostamente obsoleto.
Fonte:https://www.nytimes.com/2021/01/08/style/retrocomputing.html